Sua escola além da sala de aula

30 de mai. de 2014

artenaescola


ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO EDGARDO PEREIRA VELHO
ARTES/EDUCAÇÃO FÍSICA/SIP
TURAM 302- TARDE -2013

A CULTURA
INDÍGENA E A RESISTÊNCIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

RELATO DE EXPERIÊNCIA

            A motivação inicial se deu quando foi escolhido como uma das propostas pedagógicas para o ano de 2013 na Escola Estadual de Ensino Médio Edgardo Pereira Velho os Sítio arqueológicos Sambaquis, herança deixada pelos índios a mais de 5 mil anos quando se deu a ocupação do território, hoje Tavares.
Percebi que para trabalhar com a clientela do Ensino Médio, mais precisamente o 2 ano precisaria sondar o conhecimento prévio sobre a temática e o grau de envolvimento deles com essa nova proposta.
            Não foi grande surpresa quando os questionei sobre o que seria um sambaqui e qual a relação dele histórica e cultural para o povo brasileiro, mais precisamente ao Rio Grande do Sul e
Tavares. Eles desconheciam totalmente o assunto e ainda verbalizaram alguma rejeição ou pré-conceitos relacionados ao índio contemporâneo, assim percebi que recuar na História para avançar o conhecimento seria inevitável um projeto delicado e atento, que atendesse além do desafio na arte, fazer com que esse conhecimento se tornasse pertinente e útil para a comunidade.
Arte Indígena
 
Selecionei então o Objetivo Geral e a partir dele os Específicos
ü  Conhecer a distribuição ameríndia no estado do Rio Grande do Sul,
ü  Investigar a quais os ameríndios  habitantes do município de Tavares,
ü  Entender os sítios arqueológicos no município e a função dos mesmos,
ü  Vivenciar as culturas dos ameríndios, desde a pintura corporal e seus significados até as
produções de cerâmicas,
ü  Verificar a influencia marcante da cultura indígena para o Rio Grande do Sul,
ü  Reconhecer os povos ameríndios como formadores da cultura atual
ü  Visitar os sítios arqueológicos deixados pelos índios como marcas de sua existência
Na verdade, a paixão que move o professor sempre será o ponto de partida, eu acreditava que despertando no aluno a paixão pelo tema eu desenvolveria um bom trabalho com eles, percebo que a influência da mídia e a manipulação fotográfica é um ótimo recurso para encantarmos o aluno e despertar um interesse imediato com relação às práticas pedagógicas com o alunado. Tenho realizado trabalhos na área da Leitura e Releitura de Imagens magníficas e de grande repercussão na comunidade, aonde os mesmos explanam um novo olhar ao modo de se ver e fazer arte na escola.
O conteúdo específico no PPP da escola era o Sambaqui, Villagran 2012, apud Serrano - 1938, traz uma definição exata do cerrito:



Sambaqui- Capão Comprido- Tavares-RS



A
palavra Sambaqui está etimologicamente relacionada a duas palavras de origem
tupi, “tambá”, que significa moluscos, e “qui” que significa monte (Laming
Emperaire, 1975, Prous 1992). Serrano (1938) menciona que cada autor dá uma
interpretação diferente para o vocabulário sambaqui.  Por exemplo, Capanema propõe que o término
deriva de “hamba-quî”, molusco esparzido, enquanto isso Baptista Caetano o
associa a “h’ambá-kyp”, que significa lixo de molusco. Hure por outro lado,
sugere que a palavra resulta da junção de “taba” e “quig”, que significa é aqui
a aldeia



A arqueologia ainda salienta que encontram em alguns sítios Sambaqui as marcas de existência de fogueiras, restos de alimentos e ossadas de possíveis sepultamentos, os instrumentos e algumas de suas armas também eram depositadas dentre elas pontas projéteis em osso, lâminas de machado, quebra-coquinhos, agulhas, pesos de rede, anzóis e outros mais.
As mobilidades dos povos indígenas ao fazerem suas ocupações e os sítios sambaquis demonstram a preocupação na utilização dos espaços, segundo relatos de moradores mais antigos da cidade de Tavares-RS, muito dos pertences indígenas foram encontrados na Costa da Lagoa do Peixe (ou encostas), que sinalizam para a habitação destes povos. Porém na Laguna dos Patos aonde se localizam em torno de três dos sete sítios sambaquis não há tanta evidencia desta civilização como na Lagoa do Peixe, levando a presumir que estes povos se deslocavam para depositar os restos não perecíveis no lado oposto a sua morada e as conchas encontradas são específicas de águas salgadas e não de água doce como da Laguna.
A Lei nº 11.645/2008 que cria a obrigatoriedade do ensino da História e da Cultura dos povos ameríndios percebe a importância do conhecimento e reconhecimento sobre os mesmos no processo evolutivo do país, promovendo um novo olhar sobre a influência dos índios nos saberes atual.
Assim partindo do conteúdo Sambaqui eu incluo  os três pilares de Ana Mae Barbosa, a Leitura de Imagem, com a apreciação, o fazer artístico com a manipulação fotográfica e produções artesanais indígenas e a contextualização através da saída de campo.
Iniciei o período de sensibilização ao solicitar que a turma de alunos de Ensino Médio pesquisassem em casa quais as histórias sobre os índios que conheciam referente ao município e na WEB qual a importância cultural para o estado do Rio Grande do Sul e para Tavares. No retorno realizamos um seminário e nos encantamos com algumas histórias de achados (utensílios e poemas), mas principalmente sobre um casamento que teria acontecido a mais de um século aonde o fazendeiro teria laçado uma índia nos arredores de um mato e após capturá la acabou se apaixonando e casando com a mesma 15 dias depois.









O próximo passo foi levar as Obras Moema e a Primeira Missa no Brasil, ambas de Vitor Meireles, para realizarmos a Leitura de Imagens e pensarmos sobre esses dois olhares sobre o índio atentando ainda para as linguagens artísticas utilizadas e evidentes neste processo de criação.
Ainda foi trabalhado a questão do sambaqui litorâneo e os sete pontos registrados na  região, e através do conhecimento dos utensílios enterrados conhecer mais sobre essa arte
produzida por estes povos.
Este projeto durou em sua totalidade dois meses em  encontros intercalados de três períodos  destinados ao Seminário Integrado, que possibilita diferentes áreas utilizarem esse momento como diálogo, reflexão e produção, pois às duas horas aulas destinadas ao componente curricular da Arte não seria suficiente para dar conta da complexidade e envolvimento com o projeto em questão.
Este momento foi um “separador de águas”, levei aos alunos duas propostas, uma seria a releitura em vídeo áudio visual sobre um novo olhar da primeira Missa no Brasil, ou produções fotográficas modernas destacando diferentes momentos e marcas próprias dos ameríndios do sul do país.
 A escolha foi unânime então os alunos selecionaram os seguintes temas a serem destacados nestas produções: 

ü  A discriminação na escola
ü  A catequização dos ameríndios
ü  As produções artesanais indígenas,
ü  A influência dos costumes indígenas para a cultura do estado do Rio Grande do
Sul,
ü  Os significados das cores utilizadas em pinturas corporais,






Uso da Fotografia.




O município de Tavares é de colonização afro-açoriana, tendo uma área de 532 km e aproximadamente 6000 habitantes. Localiza-se na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, limita-se ao sul com o município de São José do Norte, a leste com o Oceano Atlântico, ao Norte com o município de Mostardas e a Oeste com a Lagoa dos Patos (aonde estão localizados os Sambaqui). Tavares está distante 230 km da Capital Gaúcha, Porto Alegre, e 127 km do município de São José do Norte. Sua economia baseia-se na cultura da cebola, arroz, pecuária, pesca e extrativismo vegetal.
A Escola Estadual de Ensino Médio Edgardo Pereira Velho, está situada a rua Menotti Garibaldi nº 220, no Centro da cidade de Tavares – RS, atualmente conta com  48 professores efetivos e contratados  e 14 funcionários efetivos e contratados, com horário de funcionamento nos turnos manhã, tarde e noite. Atende uma clientela de aproximadamente 800 alunos de classe média baixa nos três turnos, oferta o ensino fundamental séries iniciais e finais este último na modalidade politécnica, além do Programa Mais Educação e EJA.
            A escola é beneficiada pelo belo espaço físico que possui, todas as imagens capturadas durante o projeto foram realizadas na área aberta da escola, salvo uma das imagens, que retrata a discriminação do índio em escolas regulares.
            O grande parceiro deste projeto foi a direção escolar que permitiu e forneceu o material de impressão final, a alimentação para a saída a campo, quanto a  produção, maquiagem, tintas especiais para coloração na pele e a despesa dos cavalos lusitanos  para o desfile de 7 de setembro foram adquiridos com recursos próprios do professor.
             A princípio seria um projeto simples que exploraria a questão artesanal do índio em acomodar seus restos em um amontoado de conchas que guardavam histórias de um povo que teria ocupado esta região a mais de cinco mil ano atrás, mas o envolvimento dos alunos foi redirecionando o tempo do projeto devido a sensibilização que aconteceu, ultrapassando para outras áreas do conhecimento, uma vez que a vontade de conhecer e conhecer modificou o olhar destes adolescentes e a forma como eles entenderam os processos de criação e elaboração na arte, que está muito bem representada nos produtos finais dos artistas.

Os conteúdos trabalhados de forma harmoniosa foram:
Ø  Cultura indígena - Sambaqui
Ø  Imagem (Leitura, Apreciação e Contextualização)
Ø  Arte Contemporânea- Produções Artísticas
Ø  Fotografia- Manipulação Fotográfica.

Ao chegarmos próximo a finalização do projeto houve um interesse em levar este tema para as ruas e interagir com a comunidade, (ideia que partiu dos alunos), desfilarem no dia 7 de setembro, com o tema “Essa Terra tem Dono” – Sepé Tiaraju e destacar as culturas indígenas que influenciaram a cultura do povo gaúcho, por ex: Xiripá, indumentária do gaúcho/indígena, chimarrão, boleadeiras, adága, cavalo, o pala (espécie de manto, com um orifício central, utilizando em dias de invernia), a professora representando os ensinamentos e as escolas indígenas, a mulher indígena, as crianças.
Percebi um grande crescimento pessoal e através da sensibilização artística eles encontraram um novo olhar para o índio, entendendo que ele fez e faz parte do processo histórico do país, que isso está bem claro nas telas estudadas, que o modo único de vida deles traduzem ótimas aulas de arte que renderiam o ano letivo inteiro.






Desfile 7 de Setembro
Criança Indígena
Sepé Tiaraju - Cavalo no Rio Grande do Sul











Desfile 7 de Setembro









E a culminância final foi então a visita ao sítio Sambaqui que fica a uma distância de aproximadamente 13 km da escola, para a vivência foram utilizados cavalos crioulos, (animal introduzido na região pelo índio pampeano), charretes conduzidas por cavalos, propiciando uma integração do 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio.
No início não houve tanto interesse da direção e dos demais colegas, na verdade a proposta foi tomando força e personalidade a cada conquista do conhecimento por parte do aluno, a princípio seria conhecer um pouco da história do índio para ele conseguir fazer as conexões entre o conteúdo e o Sambaqui, mas ele foi tomando uma proporção que os alunos queriam conhecer mais e mais desta cultura, os questionamentos foram tanto que solicitamos uma palestra com o setor de arqueologia da FURG, Universidade Federal de Rio Grande, para palestrar sobre a temática, e assim acabou despertando um novo olhar por parte de alguns colegas e da direção que viu com bons olhos o andamento deste processo de aprendizagem.
Sabemos que hoje o campo da arte é muito amplo e nos propicia romper algumas fronteiras nos apropriando das demais áreas do conhecimento para suprir essa necessidade que o aluno tem em questionar, criticar, produzir e interagir, muitas vezes me questiono , e levei tempo a decidir enviar este projeto, por acreditar que a simplicidade dele não teria a força para competir com práticas mais inovadoras e pertinente, mas quando lembro do brilho no olhar dos alunos que se entregaram a esta proposta percebo que por eles devo arriscar.
       A avaliação final é com certeza a mais produtiva e positiva possível, que permitiu várias práticas partindo de um único disparador, o ameríndio.




1 comentários:

  1. Belo trabalho de resgate cultural e promoção do ser humano de Tavares! Parabéns!!!

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